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fabiofon.com
2005

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







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– Que usabilidade nada. Isso aqui é arte!

Fabio Oliveira Nunes (Fabio FON)

 

Se você vai traduzir uma revista de arte do papel para o meio online, considere causar estranhamento e proporcionar uma experiência insólita – artística – distante de qualquer objetividade.

Quando a internet se popularizou, pouco se falava em um tipo bem específico de produção na rede: os sites de arte. Muito diferente do que se costuma entender, esse tipo de produção não se resume a sites que referenciam trabalhos de arte como museus ou galerias, apresentando pintores ou escultores com seus trabalhos. É mais do que isso: artistas passam a utilizar o meio criando trabalhos que vão levar em consideração o que a rede tem de mais específico.

Os artistas farão com que o usuário pense sua relação com a máquina e com as outras pessoas, num mundo onde os relacionamentos são cada vez mais mediados pela teleinformática (telefones digitais, mensagens instantâneas, e-mails e tantas coisas mais).

Além, disso há também os artistas que vão considerar as novas possibilidades do computador para criação e visualização de imagens: é dentro desse contexto que surge a revista Artéria 8.

A Artéria 8, oitavo número da revista experimental de poesia Artéria, que em cada número se apresenta de maneira diferente (de sacola com poemas a caixa de fósforos), apresenta na internet cerca de 40 artistas e poetas que disponibilizam seus trabalhos para a rede, pensando-os para serem vistos através do computador.

Muitos deles são trabalhos pensados inicialmente para outros meios (impresso, vídeo etc) mas, digamos, traduzidos dentro das especificidades da rede: alguns se tornam seqüências clicáveis, outros aliam movimento e interação. O que está em jogo quando se cria um site de arte (e não sobre arte) para a rede?

Primeiramente, reconsidere suas normas sobre usabilidade e acessibilidade: o site deverá ter uma “personalidade” suficientemente forte que incline o seu visitante a ter uma postura mais exploratória e menos condicionada – devo ou não clicar aqui? O que acontece se clicar? – o que vai trazer um estranhamento inicial. Mas isso pode ter um custo talvez um pouco caro: muitos não aceitarão o desafio e irão embora. Mas lembre-se que aqui a moeda não é quantitativa. É justamente esse estranhamento que irá tornar o site de arte inesquecível aos poucos que nele se aventurarem, uma experiência insólita.

Abrindo parênteses: no meu trabalho como webdesigner de projetos essencialmente comerciais, observo que uma grande parte dos meus clientes dificilmente entende a essência desse tipo de site, justamente por não propor objetividade ao visitante. Mas como costumo exemplificar aos meus alunos, os sites de arte são como trabalhos de arte: enquanto no design a mensagem está em função de quem recebe, na arte está em função de quem cria. Ser assimilada ou não, é uma segunda questão.

Ao mesmo tempo, em comparação à arte mais tradicional, um site de arte (como Artéria 8), pode propor situações novas já que esse sujeito é ativo por excelência – Onde eu clico? – e inclinado menos à contemplação e muito mais à exploração. Como muitos artistas costumam relacionar a web ao conceito do labirinto: muito mais importante do que encontrar a saída é o percurso para encontrá-la.

Este texto foi publicado no dia 03 de feveireiro de 2005, na área de criação do Webinsider (www.webinsider.com.br), site de discussão sobre contexto e produção nos meios digitais e tecnológicos.
© Fábio Oliveira Nunes: entre em contato.

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