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2003

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







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Como definir a web arte?

Muito poucos artistas descobriam que o computador é muito mais do que uma ferramenta.
Norman WHITE (1997:48)


Hoje, é visível a importância que a rede – ou redes, já que a Internet é constituída por várias redes – possui dentro da contemporaneidade, seja ela no campo econômico, político ou cultural. Não há informação objetiva que não passe por ela: é um repositório de crescimento permanente e fluxos constantes em qualquer área do conhecimento. As redes proporcionam enquanto superfície, uma possibilidade de recombinação dos meios antecessores e enquanto estrutura, e torna presente, um sistema análogo ao pensamento humano, um hipercortéx, como define ASCOTT (1997:337).

Em busca da contemporaneidade refletida nas redes e seus reflexos em outros campos do conhecimento humano, os artistas passam a estabelecer experimentações neste novo meio, levando em consideração o campo de significados suscitado pelo “estar em rede” e as especificidades que o meio possui. Assim, paralelamente ao que é produzido especificamente para a Internet, há também espaços de divulgação de objetos artísticos: muitas vezes se aproximando do caráter didático de um livro de história da arte, reproduzindo imagens ou mesmo, espaços tridimensionais.

1.1 A arte que não é web arte

1.1.1 Galerias e museus virtuais

A grande maioria dos espaços que trazem a insígnia “artes” na rede não produz um trabalho artístico pensado para a Internet. Somente divulgam artefatos de arte que existem independentemente da rede, fazendo referência por meio de imagens ou espaços tridimensionais a uma pintura, escultura, instalação ou objeto. São os chamados “Sites de divulgação”, definidos por Gilbertto Prado em “Os sites de arte na rede Internet” (1997a):

Sites de divulgação: dessa categoria faz parte a maioria dos sites que se encontra sobre a rubrica ‘arte’ na Internet. Cabe assinalar que muitos dos trabalhos artísticos disponíveis na rede, são imagens digitalizadas desse material que estão expostas em galerias e espaços museais. A rede nestes casos, funciona basicamente como um canal de informação e indicativo para uma possível visita a esses espaços. O caráter de informação e de divulgação são prioritários e remetem a todo tempo à obra original e/ou seu autor e/ou espaço de exposição.”

Esses espaços normalmente apresentam-se como “galeria virtual” ou “museu virtual”, no caso de instituições e sites pessoais, ou ainda, no caso de artistas de outros meios, como “portfólio on-line”. Ainda que pensados dentro de algumas especificidades técnicas inerentes à Internet, não perdem a sua essência – o caráter referencial ao objeto original.

Atualmente, há recursos técnicos que possibilitam a assimilação por meio de outros referenciais além da imagem digitalizada e estática do objeto artístico, posicionada em uma página HTML. No site do Museu do Louvre , é possível visualizar imagens dos espaços expositivos em 360º graus circundando toda uma sala, assimilando não só cada obra, como também a disposição do acervo naquele local. O mesmo recurso também foi utilizado no site da 24ª Bienal de São Paulo (1998), onde diante de trabalhos mais espaciais como instalações de artistas contemporâneos; a visualização circundante da sala estabelece uma leitura mais completa da localização de cada um elementos do trabalho.

Vermelho por todos os lados - O site da XXIV Bienal de São Paulo, oferece aos seus visitantes, além das tradicionais imagens fotográficas, a visualização de obras de arte através de um aplicativo em Java - Livepicture - onde é possível ver algumas salas da exposição em 360 graus. O efeito, chamado de "Panorama" possibilita além do giro em 360º, a aproximação e afastamento da imagem (zoom in e zoom out) para melhor assimilação de detalhes. Aqui, três momentos da instalação de Cildo Meireles, "Desvio para o vermelho" (1967-98), onde se encontram vários objetos, todos eles de cor vermelha. Disponível desde 1998, no seguinte endereço: http://www.uol.com.br/bienal/24flash/panorama/pano10.htm . Visitado em 07 de julho de 2005.

 

Já a exposição “Ao Cubo”, realizada no Paço das Artes, em São Paulo, com a participação de vários artistas brasileiros – vários deles com preocupações espaciais em instalações – possui uma versão referencial na rede, que é híbrida: em uma tela dividida em dois quadros; no quadro da esquerda utiliza-se das possibilidades espaciais da VRML, onde o visitante tem algumas impressões sobre a utilização espacial dos trabalhos expostos; já no quadro da direita, ao clicar em alguma forma do espaço virtual em VRML do outro quadro, neste surge uma imagem fotográfica e referências sobre o trabalho exposto. Esta apresentação procura suprir a pouca noção espacial da imagem fotográfica através do espaço em terceira dimensão, bem como supre a baixíssima resolução e pouca legibilidade com dados estáticos – texto e imagem – que a VRML possui, através do quadro de imagem e créditos de cada trabalho.

Mas há também contra-exemplos: no site do artista Patrick Huss, encontra-se um espaço virtual criado em terceira dimensão, através da VRML, onde o visitante irá entrar em uma sala – ambientando o espaço de uma galeria real – onde é possível ver em suas paredes, várias imagens figurativas de aparência fotográfica de autoria do artista. A intenção é clara: ambientar o visitante em uma simulação de galeria de arte a fim de que através das possibilidades do tridimensional – ver sob diversos ângulos e distâncias e ter idéia do conjunto da obra – seja possível fazer leituras mais enriquecidas do que a imagem estática, inserida em uma página web. Porém, observa-se que o convencionalismo do intuito do artista além de estar muito aquém das possibilidades de um espaço virtual, simplesmente desconsidera as propriedades da interface: o contemplativo num ambiente em terceira dimensão é uma instância que não depende somente da simples simulação do real.

1.1.2 Design em hipermídia

Ainda enquanto recursos técnicos, as possibilidades de inclusão de som e imagens animadas na rede Internet ampliam-se a partir da popularização de softwares como Macromedia Flash, que possibilitam a criação de animações que resultam em arquivos de tamanho pequeno – o que significa maior rapidez de carregamento ao acessar o arquivo na Web. Neste tipo de software, as possibilidades visuais são praticamente ilimitadas, podendo criar não só animações como também interfaces inteiras de navegação que não dependem das limitações da HTML – linguagem de hipertexto para a web criada com intuitos muito mais funcionais do que estéticos.

Parte integrante da dissertação de mestrado "Web Arte no Brasil: algumas interfaces e poéticas no universo da rede Internet", realizada sob a orientação do Prof. Dr. Gilbertto Prado, na UNICAMP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre em contato.

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