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2016

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







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Por uma linguagem algoritmica:
o tempo nas obras de Andrei Thomaz (continuação)

Fabio Oliveira Nunes (Fabio FON)

3. Programa


Em Somewhere in Time (2008-2011), Thomaz insere explicitamente as questões do tempo em seu percurso. Além de sua versão como web arte originalmente de 2008, o trabalho também foi apresentado como instalação artística no Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC Videobrasil, em São Paulo, em 2011. Na web, este trabalho parte de oito legendas de filmes, sorteadas a cada visualização, dentro de um conjunto de 25 filmes. Ao clicar em uma das marcações temporais (o momento no tempo em que aquela legenda seria exibida no filme), as legendas são exibidas em um fundo negro, longe das imagens ou do filme a que se referem. Agora autônomos de seus referencias originais, os diálogos passam a ganhar nova dimensão.

Em algum lugar do tempo – vista da instalação Somewhere in time de Andrei Thomaz no Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC Videobrasil, em São Paulo, em 2011. Fonte: http://andreithomaz.com.

A aproximação à linguagem do cinema é emblemática, como já dito, da busca desta linguagem em alcançar “novos tempos” pelo aperfeiçoamento da linguagem audiovisual, mas, as legendas em si – enquanto elementos desprendidos das narrativas das imagens, como marcações de tempo em formato texto – permitem um olhar interno, a alcançar a programabilidade destas faturas.

Programabilidade – Uma das legendas de Somewhere in time. Fonte: http://andreithomaz.com.


Mas, será em Máquinas do Tempo (2014-2015), que o artista aprofundará a experiência de um tempo pontuado pela programação, criando abstrações algoritmicas. Thomaz apresenta uma série de softwares – que podem ser baixados através do site http://www.maquinasdotempo.art.br – capazes de agir sobre imagens capturadas. Sobre esta série de trabalhos, as considerações de Menotti (2015):

Cada um dos algoritmos desenvolvidos pelo artista interfere de uma certa maneira na convenção intrínseca a esse processo, segundo a qual o campo visual deve ser capturado por inteiro, tão simultaneamente quanto possível, de modo a produzir uma totalidade formal que corresponda à continuidade do instante. Nas regras estabelecidas por Thomaz, a imagem vai sendo criada aos poucos, com os pixels aparecendo em posições arbitrárias, de acordo com varreduras que pretendem imitar o movimento de cada um dos diversos mecanismos cronológicos que servem de modelo ao projeto.

Instantes – Imagem gerada pelo software Relógio de Vela da série de programas Máquinas do tempo. Fonte: http://www.maquinasdotempo.art.br .

Desta maneira, cada um dos softwares age de maneira diferente sobre imagens definidas ou capturadas por seus usuários, em seus próprios computadores. O primeiro dos softwares, Ampulheta, retira pixels do vídeo capturado por uma webcam e os redesenha na tela, de modo a compor uma imagem formada por pixels extraídos em momentos distintos. No software Metrônomo, são criadas animações do tipo timelapse – técnica que reúne fotografias capturadas em intervalos fixos e que quando reunidas, criam a sensação de aceleração no tempo. Após a exibição do timelapse, a tela é dividida, e cada metade exibe novamente o timelapse, mas com velocidades aleatórias. O processo continua até um limite definido pelo usuário, de modo que as diferenças de velocidade somam-se, e criam imagens onde cada quadrado refere-se a um momento diferente. Relógio de Pêndulo, por sua vez, desenha linhas com os pixels extraídos dos vídeos de uma webcam, reproduzindo o movimento pendular, começando pelo centro, indo até uma das extremidades, depois alcançando a outra extremidade, e, depois, retornando ao centro. E ainda, Relógio de Vela apropria-se do movimento de uma vela que encolhe, desenhando linhas horizontais, de cima para baixo, ao longo do tempo, de modo que uma linha contenha pixels anteriores aos da linha abaixo.

Ação do tempo, ação do software – Imagem gerada pelo software Ampulheta da série de programas Máquinas do tempo. Fonte: http://www.maquinasdotempo.art.br .

A experiência do tempo trazida nas obras de Andrei Thomaz dá corpo a uma linguagem algoritmica, na qual a noção de programa é tanto evidenciada quanto as preocupações sobre a imagem, sobre a composição ou outras instâncias passíveis de serem lidas frente a um experimento artístico.  Em Quantas linhas são necessárias para apagar um retângulo preto? temos a expectativa do visitante na contemplação de seu tempo real, convertido no número de linhas que preenchem a tela gradualmente. O interator se depara com a condução do tempo real pelo programa. Já em Somewhere in time, temos o tempo ficcional, reprogramado pelos algoritmos do artista. Por fim, no caso de Máquinas do Tempo, ao permitir que qualquer indíviduo baixe os softwares e a partir destes, crie imagens sob a tutela dos algoritmos criados, há um reposicionamento da figura do artista; aquele que cria os instrumentos que antecedem às imagens. Nestes trabalhos, vemos o perfil de um artista-programador emergir como uma condição a ser considerada em sua plenitude.

 

Referências

BORS, Chris.24 Second Psycho. Vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=c5NDdr7NJaw>. 2005. Acesso em 10 de novembro de 2015.
FRIESE, Holger. Personal web site  Disponível em: < http://www.fuenfnullzwei.de/>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
JESUS, Eduardo de. Timespaces: espaço e tempo na artemídia. Tese (Doutorado em Artes). Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.
MENOTTI, Gabriel. Os tempos da máquina. Texto. Disponível em: <http://www.maquinasdotempo.art.br/textos/ tempos_da_maquina_gabriel_menotti.pdf>. 2015. Acesso em 10 de novembro de 2015.
SCIArts. SCIArts Equipe Interdisciplinar. Texto. Disponível em: <http://sciarts.org.br/sciarts/entremeios/>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
THOMAZ, Andrei. Quantas linhas são necessárias para apagar um retângulo preto? Web Site. Disponível em: < http://andreithomaz.com/arte/howmanylines/ >. Acesso em 10 de novembro de 2015.
THOMAZ, Andrei. Somewhere in time. Web Site. Disponível em: <http://www.andreithomaz.com/arte/somewhere/>. 2004. Acesso em 10 de novembro de 2015.
THOMAZ, Andrei.  Sorting Algoritms (Windows Color Dialog)[Consult. 2015-11-10]. Web Site. 2012. Disponível em: < http://www.andreithomaz.com/arte/sorting/>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
THOMAZ, Andrei. Máquinas do tempo. Web Site. Disponível em: <http://www.maquinasdotempo.art.br/>. Acesso em 10 de novembro de 2015.

Publicado originalmente em:
NUNES, Fabio Oliveira. In: Musa Rara - Literatura e Adjacências. Cibercultura. N. 42. 21 de novembro de 2016. Disponível em: http://www.musarara.com.br .


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